Muitas vezes vamos a um lugar com os nossos animais e não nos deixam entrar com eles. Afinal, em Portugal, a permanência de animais em espaços públicos fechados é frequentemente proibida. Mas, em algumas ocasiões, vemos uma pessoa que está autorizada a entrar com o seu animal. Porquê? Afinal, porque é que alguns podem e outros não?


Provavelmente porque o animal em causa é um animal de assistência.


Estes são animais educados ou treinados individualmente para ajudar a realizar tarefas, de modo a aumentar a autonomia e funcionalidade de pessoas com algum tipo de problema ou deficiência física.


Algumas pessoas necessitam da ajuda dos seus animais para viver uma vida normal no seio de uma sociedade que ainda não está totalmente adaptada às suas necessidades. Assim, temos alguns exemplos de animais que ajudam pessoas:


·         Cão-Guia: ajuda pessoas com deficiência ou incapacidade visual

·         Cão-Ouvinte: ajuda pessoas com deficiência ou incapacidade auditiva

·         Cão de Alerta: alerta pessoas para condições frequentes, por exemplo, pessoas com epilepsia ou diabetes

·         Cão de Serviço: ajuda pessoas com deficiência orgânica ou motora, buscando objectos, abrindo portas, entre outras tarefas


Para a maior parte destes casos, são utilizados cães, preterindo outras espécies. Isto acontece porque estes animais têm de estar física e emocionalmente preparados para o seu trabalho, que muitas vezes requer tamanho e resistência. Por exemplo, um cão muito pequeno não conseguiria auxiliar uma pessoa em cadeira de rodas, pois se magoaria se entrasse em contacto com ela.


A raça mais utilizada é o labrador retriever, mas a raça não é indicativo da competência do animal. Normalmente, são animais seleccionados muito cuidadosamente, desde a sua progenitura, para haver uma maior probabilidade genética de termos um cão psicologicamente disponível para aprender a ajudar pessoas de uma maneira muito específica. Outros traços emocionais que se procuram nestes cães são a estabilidade psicológica, a capacidade de aprendizagem e a capacidade de concentração.


No entanto, existe uma categoria muito especial de animais de assistência em que qualquer animal pode entrar. Por vezes, os nossos próprios animais podem fazer parte deste grupo!


São eles os ESAN: Animais de Assistência Emocional.


Estes são animais que têm fins terapêuticos para a cura e maneio de doenças psicológicas e psiquiátricas. Dão apoio às pessoas com estes problemas e promovem a sua independência.


Como o principal benefício destes animais é a sua presença, não necessitam de um treino específico: o treino básico de obediência é o suficiente, apenas para que possam conviver com outras pessoas e animais de forma saudável. São animais que trazem conforto e apoio aos seus donos, contribuindo assim para o tratamento das suas doenças.


Podem ser de qualquer espécie, desde o cão ao gato, passando pelo cavalo ou a tartaruga. Os dois primeiros são mais utilizados, mas no momento de escolher um animal para nos assistir poderemos guiar-nos apenas pela nossa preferência pessoal.


Ao contrário dos outros animais de assistência, os ESAN não têm qualquer vantagem legal em Portugal. Noutros países, são tratados como qualquer outro animal de assistência. No entanto, mesmo no nosso território há empresas voluntárias que fazem excepções. Por exemplo, muitas companhias aéreas permitem que os ESAN viagem com os seus donos na cabine, o que é muito vantajoso para ambos.


Dito isto, muitas pessoas gostariam que o seu animal fosse considerado um “animal de assistência emocional”, simplesmente pelas vantagens que algumas empresas oferecem. Mas, se qualquer animal pode dar assistência, nem todas as pessoas necessitam dela.


Afinal, estes animais funcionam como terapia. Para um cão ou gato serem aprovados como ESAN, os seus donos precisam de um comprovativo médico, garantindo que sofrem de condições como a depressão, ansiedade, doença mental ou emocional. O médico ou terapeuta assistentes deverão fazer essa recomendação.


 No entanto, estes problemas são muito frequentemente subdiagnosticados, passando desapercebidos aos doentes e aos seus familiares. Assim, apresentamos uma lista de sintomas frequentes que podem indicar que necessita de ir ao médico receber aconselhamento:


·         Sentimento de tristeza, ansiedade ou “vazio” persistente;

·         Desespero, pessimismo;

·         Perda de interesse em hobbies ou actividades;

·         Baixa enérgica, fadiga;

·         Dificuldades de concentração e perda de memória;

·         Insónia ou excesso de sono;

·         Perda de apetite com perda de peso, ou apetite excessivo;

·         Pensamentos sobre morte ou suicídio;

·         Irritabilidade;

·         Sintomas físicos persistentes que não respondem a tratamento.


Caso tenha um ou mais destes sintomas ou seja próximo de alguém que os revele, é muito importante visitar um profissional. Ele lhe poderá dizer se o seu animal o poderá ajudar ou não.


Mas mantém-se a questão: Como é que o meu animal me pode ajudar?


Está clinicamente provado que tocar num animal acalma as pessoas, reduzindo a sua frequência cardíaca. Assim, sintomas de ansiedade ou pânico podem ser imediatamente reduzidos apenas pelo toque e proximidade.


Para além disso, os animais são excelentes ouvintes. Isto porque ouvem sem manifestarem qualquer tipo de conselho: são ouvintes imparciais. Fazer actividades com os nossos animais também ajuda a perspectivar os problemas. Ajudam a clarear as ideias e a manter uma mente limpa e sã.


Servem também como distracção para pensamentos destrutivos. Enquanto passeamos o nosso cão ou brincamos com o nosso gato, a nossa mente afasta-se dos pensamentos negativos, ajudando-nos a recuperar a disposição. Reduzem a solidão e ajudam a conhecer novas pessoas. Afinal, podemos encontrar pessoas com problemas semelhantes aos nossos ou mesmo fazer amigos entre os amantes de animais.


Finalmente, eles podem alertar outras pessoas durante uma crise emocional. Vendo que o seu dono está prestes a ter um ataque de pânico, podem avisar amigos ou familiares, pedindo ajuda.

 

Se tiver um problema a nível emocional e sentir que pode ser ajudado pelo seu animal de estimação, contacte o seu médico para lhe falar desta opção de terapia. Depois da sua aprovação, poderá obter certificação junto da APCA – Associação Portuguesa de Cães de Assistência, uma das entidades reguladoras desta actividade em Portugal.


Podemos não nos aperceber, mas a simples presença de um animal pode evitar a tristeza e o desespero de algumas pessoas. Poderão mesmo evitar a sua morte. Portanto, aguardamos que brevemente sejam dados mais direitos a estes cães e gatos, para que possam participar em todos os aspectos da vida dos seus donos!